O cara entra na Internet, vê um frasco com um líquido numa matéria (patrocinada) que diz que tal remédio isso, aquilo, aquilo outro, que já foi aprovado pela ANVISA e sei lá mais o quê, é a melhor descoberta contra o que quer que seja. Vai na onda dos caras e encomenda. Quando o pedido chega (se chega), experimenta, reexperimenta, triexperimenta e não vê nada. Se leva o produto a análise química, descobre que comprou ódeo de fígado de bacalhau, elixir paregórico, óleo de soja com hortelã e outras inocuidades. Consegue no máximo uma diarreia. Existe entretanto uma hipótese de a coisa surtir efeito: se o sujeito receber uma caixinha com furinhos e uma aranha-armadeira dentro. Aí é infalível! Vai ter ereções lonquíssimas! Mas antes vai precisar de uma picada do inseto. E depois terá de se conformar com o fato de que irá morrer em poucas horas. Mas a puta ereção será alcançada!
Uma vez um pilantra (ou um grupo de pilantras) divulgou no Youtube um vídeo com uma mulher matando um cachorrinho após infligir-lhe sofrimentos tão lancinantes que nem ouso aqui relatá-los -- de verdade: a simples lembrança do que vi me faz mal. Fiquei muito abalado por uns dois meses, e divulguei o material para todos os amantes de animais com que tinha contato, na esperança de que alguém a reconhecesse e denunciasse às autoridades. Dias depois cliquei num site que dizia que aquela torturadora bestial e monstruosa tinha sido presa e espancada pelas outras presidiárias. A reclusão era uma mentira; o martírio acontecera três anos antes de o site divulgá-lo, e ninguém sabia quem era a besta e muito menos que destino tivera depois das barbaridades. Mais: o acontecido fora nas Filipinas, e nenhuma autoridade pública brasileira, se a identificasse, poderia fazer o que quer que fosse contra ela. Resumo da história: ajudei os canalhas a viralizar uma sucessão indescritível de crueldades e depois uma inverdade. Fui, por volta de 2016, um dos otários da Internet.
Dois anos depois enviaram-me um vídeo de um meliante matando um cachorrinho com uma facada. Reclamei com as pessoas que me mandaram a cena deprimente, não repassei e dias depois li que o demônio asqueroso era mexicano e fora assassinado por uma facção de traficantes do México, o que era uma mentira deslavada. Conferindo a informação, soube que era mentirosa e que o demônio maldito pagara uma muito pequena fiança na delegacia e saiu livre e feliz como um praticante de caridades. Mais uma vez sofri e caí no ridículo. Não pudera adivinhar o que havia no vídeo antes de vê-lo, mas cliquei na informação de que o infame forma assassinado, o oque rendeu aos crápulas da Internet mais um acesso. Mais uma vez fui idiota.
Por tudo isso volto a recomendar: não clique jamais em postagens de notícias fantásticas, de descobertas impressionantes. Confira nos sites confiáveis (eles existem, sim! Não generalize), mas informe-se por sites da imprensa real, autêntica, pois há muitos calhordas postando mentiras absurdas e ganhando dinheiro às nossas custas. Você não pode adivinhar o desfecho dos vídeos que recebe, mas tem plenas condições de não ajudar a dar visibilidade a vagabundos.
Barão da Mata
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